sexta-feira, 10 de outubro de 2014

ELITE POLÍTICA E ALTERNÂNCIA DE PODER: POR UMA CONTRIBUIÇÃO AO DEBATE POLÍTICO MIRIENSE
Edson Antunes
Circulação de elites em sistemas políticos democráticos
Diante dos diversos acontecimentos políticos ocorridos em nosso município a partir da queda da então gestão “botiana” bem como dos resultados do primeiro turno das eleições deste ano, retomo aqui o debate iniciado em março de 2013 a respeito da alternância no poder de agentes no sistema político miriense constituído por elites políticas pertencentes à classe política local. É mister que se tratando de sistemas políticos abertos e democráticos, há de considerar sempre, a premissa de dois fatores particulares: 1) A circulação de elites e 2) As ofertas e demandas (input e output) na dinâmica interna do sistema.
Compreendem-se como elite política, grupos funcionais, ocupacionais, que possuem status elevado (por um razão qualquer) em uma sociedade. Como já demonstrei no caso da família “Leão”, injetado pelo fator econômico no período áureo da economia açucareira, por terem sido proprietários do instrumento estratégico “engenho de cana-de-açúcar”.  No entanto, o que se tem observado atualmente que a circulação de elites em nosso sistema, firmado pela articulação da tradição política e poder econômico, se apresenta com anomalias acentuadas pela ausência de arregimentação, recrutamento e formação de novas lideranças políticas capazes de dar maior qualidade e fluidez ao sistema e possibilitar crescente oferta competitiva para alternância de poder.
Em sua maioria os partidos políticos em vez de criarem maior democracia interna, acabam tornam-se oligarquias de poucos caciques e em vez de fortalecerem-se abrem espaços para criação de mais partidos de um dono só, o que é extremamente danoso ao sistema democrático no qual deveria haver o pluripartidarismo e não o multipartidarismo. Por outro lado tem-se revelado de eleição em eleição um eleitor de perfil incontrolável, levando o voto a dois pontos consensuais: interesse e ideologia. Quando temos em alguns casos esta combinação temos então uma candidatura de ponto ótimo na curva. Hoje nas campanhas se discute mais a corrupção de um ou de outro candidato e menos as propostas para melhoria da qualidade de vida da população. O fato é que as pessoas votam mais porque querem a melhoria da sua qualidade de vida (interesse) ou porque se enxergam em determinado candidato como membros da sua própria classe (ideologia).
Todo sistema apresenta demanda e oferta. Com as manifestações de junho de 2013 ganhou as ruas demandas que há muito tempo foram amadurecidas no seio da população, mas a oferta a essas demandas demorarão mais tempo ainda para serem atendidas num sistema político com essas anomalias. Uma questão central é o fortalecimento dos partidos já estruturados e a conseqüente diminuição do inchaço no sistema de surgimento de partidos “nanicos” que invocam a “nova política”, pois estes acabam tornando-se mais oligárquicos que os já existentes, pelo fato de não estarem imbuídos da realização da democracia interna partidária em que os quadros mais preparados seriam os escolhidos e assim teriam melhores condições de disputarem com qualidade as alternâncias de poder no sistema político.
Dito isto, prossigamos a seguir com a análise do resultado do primeiro turno das eleições em nosso município. Muitos comentários já foram disseminados por diversos meios a esse respeito, em sua maioria visões romantizadas, bairristas, cheias de emoção e pouco analíticas, de caráter racional, com pé no chão. Se o objetivo final de determinada candidatura numa disputa estadual é eleger-se, seria então puro romantismo que este sendo apenas conhecido ou tendo trabalho político somente em Igarapé-Miri, tenha as condições objetivas para se eleger. Parece-nos aqui mais um caso de fabricação de capital político para futura disputa de vaga a eleição municipal num sistema político local em crise.

O mito da “candidatura da terra”
Uma visão analítica do sistema político local destoa plenamente da visão romantizada bairrista amplamente veiculada. Nosso argumento tem seus fundamentos nos dados quantitativos das eleições de 2014. Das 15.999 secções em 144 municípios do Estado, estavam aptos a votar 5.185.950 eleitores, dos quais compareceram 4.091.840 (78,90%), destes, 3.698.750 (90,39%) foram votos válidos (nominais + legenda) que distribuídos para 41 vagas para o cargo de deputado estadual constitui-se um coeficiente eleitoral de 90.213 para o alcance de vaga para cada chapa de coligação/partido e assim efetivando sucessivamente a distribuição de forma proporcional até completar o total de vagas. Portanto, nestas eleições para ser uma candidatura a deputado estadual competitiva o ótimo da curva seria uma meta de 30.000 votos, muito a quem do total de votos alcançados por “candidaturas da terra” que sem articulação regional ou inserção estadual, atuaram somente em Igarapé-Miri. Se não, vejamos os números, das 139 secções do município, estavam aptos a votar 44.871 eleitores, dos quais compareceram 36.140 (80,54%) acima da média estadual, destes, 32.730 (90,56%) foram votos validos (nominais + legenda). Assim, somente se todos os eleitores do município votassem em uma só candidatura esta poderia ser eleita; o que leva-nos a concluir que seria infinitamente impossível o êxito nestes termos de uma “candidatura da terra” garantir um mandato, em virtude até mesmo do ingresso de diversos conterrâneos na disputa pelos mesmos eleitores. Por uma visão analítica, racional da política local, os partidos políticos em vez de apresentarem candidaturas de projetos pessoais isolados, deveriam produzir e manter lideranças políticas atuantes no sistema, o que demanda que seus agentes para além de recrutar, arregimentar devem formar novas lideranças competitivas no plano local e regional.
Eleições 2014 x Eleição Municipal Suplementar 2015-2016
Dentro do jogo político atual temos alguns consensos que são nacionais, tais como: combate a corrupção, alternância de poder, reeleição, inflação e políticas sociais. Como já afirmamos, o eleitor tem-se comportado de forma incontrolável dentro do sistema. Numa mesma eleição é capaz de mudar de opinião seguida vezes, herança das piores formas de submissão de uma sociedade escravista, uma vez que os sistemas são enraizados no local. No primeiro turno das eleições de 2014 em Igarapé-Miri, os mesmos eleitores que deram ampla vantagem aos petistas Dilma e Paulo Rocha, optaram em sua maioria para a candidatura a governo do PSDB em detrimento do candidato do PMDB. Fato que corrobora a análise do comportamento do eleitor baseado de forma preponderante em seu interesse pessoal do que no plano ideológico.
Ademias, no caso particular de Igarapé-Miri as eleições de 2014 acontecem em meio à “dança das cadeiras II” em que os eleitores vivem a tensão de futuramente serem submetidos à eleição municipal suplementar para escolha de nova chapa majoritária (Prefeito e Vice) que  governará o município no biênio 2015-2016. Esse acontecimento apimentou ainda mais o já fragilizado sistema político local na disputa do poder pelo poder. Nunca antes na história política do município tivemos tantos fatos inéditos e nunca antes tivemos anuncio de tantas chapas concorrentes numa mesma eleição. Para um sistema local que saiu de uma polarização recente entre duas chapas, hoje se fala em primeira, segunda e terceira via, chapas de caráter distrital separativista, setorial empresarial, de gênero e geração.  E ainda, e talvez a mais grave de todas as crises, o acirramento interno nos partidos entre novas e velhas lideranças, sem as mesmas perceberem que se trata da própria anomalia do sistema.

Por fim, em nossa análise de 2013 pontuamos que em última instância embora tenhamos alternância de poder no sistema político local, as elites econômicas são ou estão aliadas as mesmas elites políticas, que se revezam no poder desde período da intendência até os dias de hoje utilizando-se das variadas formas do poder pelo poder. No entanto, recentemente tem surgido idéias-forças que podem possibilitar a bifurcação dentro do sistema de vias viáveis, a partir da coalizão de chapa cujos interesses políticos se aproximem.  Se de um lado temos a experiência recente da coalização de direita dos governos (dilziano e botiano) capitaneada pelo atual governo do Estado, de outro ainda perdura a experiência da coalização centro-esquerda do governo anterior (piniano) agora defensores da chapa de oposição.  Sem empolgações políticas necessárias ou o anuncio da rejeição de agente A ou B dentro sistema sem dados analíticos confiáveis, o fato que teremos um cenário além daquele de polarização que vivenciamos nas eleições municipais de 2012. Que possamos nos desprender de nossos projetos pessoais e encontrar cenários racionais coletivos capazes de mudar a atual realidade política miriense.   

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