ELITE
POLÍTICA E ALTERNÂNCIA DE PODER: POR UMA CONTRIBUIÇÃO AO DEBATE POLÍTICO
MIRIENSE
Edson
Antunes
Circulação de
elites em sistemas políticos democráticos
Diante dos diversos acontecimentos
políticos ocorridos em nosso município a partir da queda da então gestão “botiana”
bem como dos resultados do primeiro turno das eleições deste ano, retomo aqui o
debate iniciado em março de 2013 a respeito da alternância no poder de agentes no
sistema político miriense constituído por elites políticas pertencentes à
classe política local. É mister que se tratando de sistemas políticos abertos e
democráticos, há de considerar sempre, a premissa de dois fatores particulares:
1) A circulação de elites e 2) As ofertas e demandas (input e output) na
dinâmica interna do sistema.
Compreendem-se como elite política,
grupos funcionais, ocupacionais, que possuem status elevado (por um razão
qualquer) em uma sociedade. Como já demonstrei no caso da família “Leão”,
injetado pelo fator econômico no período áureo da economia açucareira, por terem
sido proprietários do instrumento estratégico “engenho de cana-de-açúcar”. No entanto, o que se tem observado atualmente
que a circulação de elites em nosso sistema, firmado pela articulação da tradição
política e poder econômico, se apresenta com anomalias acentuadas pela ausência
de arregimentação, recrutamento e formação de novas lideranças políticas
capazes de dar maior qualidade e fluidez ao sistema e possibilitar crescente
oferta competitiva para alternância de poder.
Em sua maioria os partidos políticos
em vez de criarem maior democracia interna, acabam tornam-se oligarquias de
poucos caciques e em vez de fortalecerem-se abrem espaços para criação de mais
partidos de um dono só, o que é extremamente danoso ao sistema democrático no
qual deveria haver o pluripartidarismo e não o multipartidarismo. Por outro
lado tem-se revelado de eleição em eleição um eleitor de perfil incontrolável,
levando o voto a dois pontos consensuais: interesse e ideologia. Quando temos
em alguns casos esta combinação temos então uma candidatura de ponto ótimo na
curva. Hoje nas campanhas se discute mais a corrupção de um ou de outro
candidato e menos as propostas para melhoria da qualidade de vida da população.
O fato é que as pessoas votam mais porque querem a melhoria da sua qualidade de
vida (interesse) ou porque se enxergam em determinado candidato como membros da
sua própria classe (ideologia).
Todo sistema apresenta demanda e
oferta. Com as manifestações de junho de 2013 ganhou as ruas demandas que há
muito tempo foram amadurecidas no seio da população, mas a oferta a essas
demandas demorarão mais tempo ainda para serem atendidas num sistema político
com essas anomalias. Uma questão central é o fortalecimento dos partidos já
estruturados e a conseqüente diminuição do inchaço no sistema de surgimento de
partidos “nanicos” que invocam a “nova política”, pois estes acabam tornando-se
mais oligárquicos que os já existentes, pelo fato de não estarem imbuídos da
realização da democracia interna partidária em que os quadros mais preparados
seriam os escolhidos e assim teriam melhores condições de disputarem com
qualidade as alternâncias de poder no sistema político.
Dito isto, prossigamos a seguir com
a análise do resultado do primeiro turno das eleições em nosso município. Muitos
comentários já foram disseminados por diversos meios a esse respeito, em sua
maioria visões romantizadas, bairristas, cheias de emoção e pouco analíticas, de
caráter racional, com pé no chão. Se o objetivo final de determinada candidatura
numa disputa estadual é eleger-se, seria então puro romantismo que este sendo
apenas conhecido ou tendo trabalho político somente em Igarapé-Miri, tenha as
condições objetivas para se eleger. Parece-nos aqui mais um caso de fabricação de
capital político para futura disputa de vaga a eleição municipal num sistema político local em crise.
O mito da
“candidatura da terra”
Uma visão analítica do sistema
político local destoa plenamente da visão romantizada bairrista amplamente
veiculada. Nosso argumento tem seus fundamentos nos dados quantitativos das
eleições de 2014. Das 15.999 secções em 144 municípios do Estado, estavam aptos
a votar 5.185.950 eleitores, dos quais compareceram 4.091.840 (78,90%), destes, 3.698.750 (90,39%) foram votos válidos (nominais +
legenda) que distribuídos para 41 vagas para o cargo de deputado estadual constitui-se
um coeficiente eleitoral de 90.213 para o alcance de vaga para cada chapa de
coligação/partido e assim efetivando sucessivamente a distribuição de forma
proporcional até completar o total de vagas. Portanto, nestas eleições para ser
uma candidatura a deputado estadual competitiva o ótimo da curva seria uma meta
de 30.000 votos, muito a quem do total de votos alcançados por “candidaturas da
terra” que sem articulação regional ou inserção estadual, atuaram somente em
Igarapé-Miri. Se não, vejamos os números, das 139 secções do município, estavam
aptos a votar 44.871 eleitores, dos quais compareceram 36.140 (80,54%) acima da
média estadual, destes, 32.730 (90,56%) foram votos validos (nominais +
legenda). Assim, somente se todos os eleitores do município votassem em uma só
candidatura esta poderia ser eleita; o que leva-nos a concluir que seria infinitamente
impossível o êxito nestes termos de uma “candidatura da terra” garantir um
mandato, em virtude até mesmo do ingresso de diversos conterrâneos na disputa
pelos mesmos eleitores. Por uma visão analítica, racional da política local, os partidos políticos em
vez de apresentarem candidaturas de projetos pessoais isolados, deveriam
produzir e manter lideranças políticas atuantes no sistema, o que demanda que
seus agentes para além de recrutar, arregimentar devem formar novas lideranças
competitivas no plano local e regional.
Eleições
2014 x Eleição Municipal Suplementar 2015-2016
Dentro do jogo político atual
temos alguns consensos que são nacionais, tais como: combate a corrupção,
alternância de poder, reeleição, inflação e políticas sociais. Como já
afirmamos, o eleitor tem-se comportado de forma incontrolável dentro do
sistema. Numa mesma eleição é capaz de mudar de opinião seguida vezes, herança
das piores formas de submissão de uma sociedade escravista, uma vez que os
sistemas são enraizados no local. No primeiro turno das eleições de 2014 em
Igarapé-Miri, os mesmos eleitores que deram ampla vantagem aos petistas Dilma e
Paulo Rocha, optaram em sua maioria para a candidatura a governo do PSDB em
detrimento do candidato do PMDB. Fato que corrobora a análise do comportamento do
eleitor baseado de forma preponderante em seu interesse pessoal do que no plano
ideológico.
Ademias, no caso particular de
Igarapé-Miri as eleições de 2014 acontecem em meio à “dança das cadeiras II” em
que os eleitores vivem a tensão de futuramente serem submetidos à eleição
municipal suplementar para escolha de nova chapa majoritária (Prefeito e Vice) que
governará o município no biênio
2015-2016. Esse acontecimento apimentou ainda mais o já fragilizado sistema
político local na disputa do poder pelo poder. Nunca antes na história política
do município tivemos tantos fatos inéditos e nunca antes tivemos anuncio de
tantas chapas concorrentes numa mesma eleição. Para um sistema local que saiu
de uma polarização recente entre duas chapas, hoje se fala em primeira, segunda
e terceira via, chapas de caráter distrital separativista, setorial empresarial,
de gênero e geração. E ainda, e talvez a
mais grave de todas as crises, o acirramento interno nos partidos entre novas e
velhas lideranças, sem as mesmas perceberem que se trata da própria anomalia do
sistema.
Por fim, em nossa análise de 2013 pontuamos
que em última instância embora tenhamos alternância de poder no sistema
político local, as elites econômicas são ou estão aliadas as mesmas elites
políticas, que se revezam no poder desde período da intendência até os dias de
hoje utilizando-se das variadas formas do poder pelo poder. No entanto,
recentemente tem surgido idéias-forças que podem possibilitar a bifurcação
dentro do sistema de vias viáveis, a partir da coalizão de chapa cujos
interesses políticos se aproximem. Se de
um lado temos a experiência recente da coalização de direita dos governos
(dilziano e botiano) capitaneada pelo atual governo do Estado, de outro ainda
perdura a experiência da coalização centro-esquerda do governo anterior
(piniano) agora defensores da chapa de oposição. Sem empolgações políticas necessárias ou o
anuncio da rejeição de agente A ou B dentro sistema sem dados analíticos
confiáveis, o fato que teremos um cenário além daquele de polarização que
vivenciamos nas eleições municipais de 2012. Que possamos nos desprender de
nossos projetos pessoais e encontrar cenários racionais coletivos capazes de
mudar a atual realidade política miriense.
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