Apresentação
Este livro busca contribuir para a reflexão
sobre um tema que, quase que independentemente do
cenário que venha a ser construído pelos atores sociais
presentes na cena atual brasileira e latino-americana,
tenderá a ser cada vez mais importante. À medida que
se vá alargando a Economia Solidária - espaço
constituído por redes de produção e consumo baseadas
na propriedade coletiva dos meios de produção e na
autogestão capaz de expandir-se e adquirir
sustentabilidade no âmbito de uma economia
capitalista periférica - o tema da Tecnociência Solidária
se tornará ineludível.
Caso se mantenha a calamitosa tendência
atual, a Economia Solidária poderá atenuar a exclusão
social. Caso venha a ser revertida, as redes de
empreendimentos solidários - cooperativas, associações, etc. - serão essenciais para alavancar um estilo
de desenvolvimento mais justo e ambientalmente
responsável.
Mas não é somente aqui que o ideário
subjacente à Economia Solidária ganha força. Nos
países capitalistas avançados, no âmbito do que vem
sendo chamado de Nova Democracia, vem-se
fortalecendo a proposta de novos arranjos para a
produção e circulação de bens e serviços envolvendo o
Estado e os movimentos populares. Animam essas
propostas, por um lado, a incapacidade das políticas de
ajuste neoliberal que vem sofrendo o capitalismo para
12 | Tecnociência Solidária
enfrentar suas crises sistêmicas. E, por outro, a
possibilidade de, apoiando-se no êxito das cooperativas
e outros arranjos econômico-produtivos semelhantes
que vem sendo lá formados, expandir sua ação
aproveitando a reversão ora em curso da privatização
de empresas estatais.
Este livro se dedica a ajudar a proporcionar o
componente tecnocientífico necessário para a
viabilização desses arranjos. Ele visa a construir o que
temos chamado de plataforma cognitiva de lançamento
dessa forma de organização da produção e circulação
de bens e serviços para além do capital, a Tecnociência
Solidária.
Em todo o mundo se divisa com cada vez maior
clareza dois caminhos que, começando com ações já em
curso e apoiando-se em distintas plataformas
tecnocientíficas, apontam para cenários que recolocam
antigos dilemas. O que busca enfrentar essas crises e
retomar o crescimento econômico pela via hoje
dominante da competição entre empresas carburada
pela redução do preço da força de trabalho. Seu ponto
médio, que impõe a supressão das garantias
conquistadas pelos trabalhadores, é visto pelos que o
defendem como a antessala de uma etapa de
crescimento redistributivo, possibilitada pelas
tecnologias emergentes advindas da tecnociência
capitalista, que levará a uma era de prosperidade para
todos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário