A
América do Sul vive um ano de manifestações de rua, confrontos, distúrbios e crises políticas: Chile, Bolívia, Equador, Venezuela, Paraguai, Peru e Argentina tiveram protestos em massa e crises políticas que balançaram seus governos ou, pelo menos, os deixaram bastante abalados.
Em alguns deles, como
Chile e Venezuela, houve confrontos e mortes.
Em cada um dos países
houve um motivo específico que desencadeou o início dos distúrbios, e em nenhum
deles, houve troca de presidente.
O país começou a ter protestos depois que a apuração das eleições
presidenciais, que inicialmente apontava um 2º turno, passou a indicar mais
uma reeleição de Evo Morales, a quarta em
seguida. Os partidários do segundo colocado, Carlos Mesa, tomaram as ruas em
protesto. Eles denunciam uma suposta fraude. Houve confrontos em Sucre, Oruro,
Cochabamba e La Paz, entre outras cidades. Morales qualificou os atos como
um golpe, mas acabou cedendo às pressões e
anunciou a convocação
de novas eleições.
A onda de protestos
violentos teve início no Chile na segunda metade de setembro após um aumento de
30 pesos (equivalente a R$ 0,17) no preço das tarifas do metrô de
Santiago. Milhares
de pessoas derrubaram portões,
quebraram catracas e passaram sem bilhete pelos controles de acesso. A polícia
revidou com bombas de gás lacrimogêneo. Os protestos tiveram uma escalada com
saques e depredações em várias cidades do país. O governo decretou estado
de emergência por 15 dias e o
exército foi às ruas pela primeira vez desde a ditadura de Augusto Pinochet. O
presidente Sebastian Piñera suspendeu o aumento da tarifa do metrô e propôs
uma reforma constitucional, mas
os protestos continuam. Mais de mil pessoas foram detidas e 20 morreram em
decorrência dos distúrbios.
O país enfrentou em outubro
11 dias de violentos protestos e estradas bloqueadas depois que o presidente
Lenín Moreno anunciou o fim de um subsídio aos combustíveis que já durava 40
anos, causando um aumento de até 123% nos preços, parte de um pacote de ajustes
para cumprir metas acertadas com o FMI. Em reação às primeiras manifestações, o
governo decretou "estado
de exceção" e, posteriormente, transferiu a sede do governo de Quito para a
cidade costeira de Guayaquil. Mas as medidas não contiveram as manifestações.
Os distúrbios deixaram sete mortos, 1.340 feridos e 1.152 presos, segundo a
Defensoria Pública. No dia 14 de outubro, o presidente, após se reunir com
lideranças indígenas, anunciou que iria revogar a medida que cortava o subsídio.
A Venezuela vive uma
recessão e inflação há anos, e há uma saída em massa da população do país por causa
da pobreza e falta generalizada de produtos. O líder da oposição, Juan Guaidó,
se autoproclamou presidente em janeiro e mobilizou opositores. No fim de abril,
ele tentou organizar um levante para derrubar o presidente Nicolás
Maduro. Alguns militares aderiram, mas a maioria dos membros das forças armadas
permaneceram fiéis ao regime chavista. Houve confrontos violentos em Caracas, e ao menos cinco
pessoas morreram, de acordo com
levantamento da ONU. As mobilizações posteriores foram mais fracas.
Em setembro, integrantes
de movimentos sociais da Argentina protestaram em Buenos Aires para exigir que o
presidente Mauricio Macri declarasse emergência alimentar para combater
pobreza. A Igreja Católica reforçou o pedido. O Congresso aprovou, por unanimidade, um projeto de lei
alimentar de emergência para permitir maiores recursos aos programas sociais. A
pobreza na Argentina aumentou de 32,0% para 35,4% no primeiro semestre deste
ano, o nível mais alto desde o colapso da economia em 2001. O país terá eleição
presidencial esta semana e, sem conseguir uma retomada da economia, Macri
dificilmente se reelegrá.
No fim de setembro, o
presidente do Peru, Martín Vizcarra, após uma derrota no Congresso,
resolveu dissolver a legislatura e convocou novas eleições
-- o que a lei lhe permite. Em resposta, os congressistas chegaram a votar
uma suspensão do líder executivo e nomearam a
vice, a parlamentar Mercedes Aráoz, para ocupar seu cargo. Ela, entretanto,
renunciou ao posto, e Vizcarra permaneceu no posto. Manifestantes apoiaram a
decisão de fechar o Congresso, em meio à crise de credibilidade da classe
política por causa do escândalo ligado à Odebrecht no país.
O governo assinou com o
Brasil um documento em que se comprometia a comprar
energia mais cara do que o
habitual da Usina de Itaipu, que pertence aos dois países. Em decorrência
disso, em agosto, o Paraguai mergulhou numa crise política, funcionários em cargos
importantes caíram e o presidente Mario Abdo ficou ameaçado de ser submetido a
um processo de impeachment. Houve manifestações pelo país,
principalmente na capital Assunção. O acordo firmado em maio, sem divulgação,
foi cancelado oficialmente, e a tensão diminuiu. Um grupo governista que havia
aderido à proposta de impeachment da oposição acabou desistindo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário