Elite no Brasil vê renda crescer até o triplo do
observado entre o restante da população Grupo
que representa fatia 0,01% mais rica vê ganhos quase dobrarem entre 2017 e 2022.
https://www.folha.uol.com.br/ - 16.jan.2024 às 23h15 -Adriana Fernandes
- A renda de 15 mil pessoas pertencentes ao
topo da pirâmide social no Brasil cresceu nos últimos anos até o triplo do
ritmo observado entre o restante da população, elevando a concentração da
riqueza ao fim do governo Jair Bolsonaro (PL).
- Entre essa elite, que representa 0,01% da
população, o crescimento médio da renda praticamente dobrou (96%) entre 2017 e
2022.
- Enquanto isso, os ganhos da imensa maioria da população adulta (os 95% mais pobres) não avançaram mais do que 33% - pouca coisa acima da inflação do período (31%).
- A conclusão está em nota técnica elaborada
pelo economista Sérgio Gobetti, publicada pelo Observatório de Política Fiscal
do FGV Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas).
- É o primeiro cálculo da concentração no
topo da pirâmide no Brasil feito após a divulgação de dados mais detralhados
das declarações do IR (imposto de Renda) pela Receita Federal.
- Com essas informações, foi possível
verificar quanto ganha as pessoas mais rica do país e comparar com a evolução
da renda de todos os brasileiros, apurados pelo IBGE.
- Ao ampliar a análise para identificar a
renda do grupo 0,1% mais rico, formado por cerca de 154 mil pessoas, Gobetti
constatou que ela cresceu em média 87% entre
2017 e 2022.O ganho mensal desses brasileiros subiu de R$ 236 mil para R$
441 mil nos cinco anos do levantamento.
- Na fatia 1% mais rica, o crescimento também
foi alto, de 67%. Entre os 5% com mais ganhos, de 51%.
- Para o economista, os cálculos preliminares
apontam que a concentração chegou a níveis inéditos.
“Ao
que tudo indica, o nível de concentração de renda no topo bateu um novo recorde
histórico, depois de uma década de relativa estabilidade da desigualdade”, afirma
o economista.
- Gobetti ressalta que a proporção do bolo da
renda nacional apropriada pelo 1% mais rico da sociedade brasileira cresceu de
20,4% para 23,7% - ou seja, mais de três pontos percentuais, o que é
considerado muito para um período tão curto de tempo.
- Entre os fatores que explicam o crescimento
da renda na elite, Gobetti destaca dois em especial: os ganhos com a atividade rural (parcialmente isentas), que cresceu
especialmente entre os mais ricos, e o aumento do valor distribuído em forma de
lucros e dividendos, que passou de R4 371 bilhões em 2017 para R$ 830 bilhões
em 2022.
- A revogação da atual isenção sobre
dividendos é o principal ponto da proposta de reforma da tributação da renda
que o governo Luís Inácio Lula da Silva (PT) deve enviar até março para o
Congresso, conforme previsto pela emenda constitucional da reforma recentemente
promulgada.
- A emenda deu prazo de 90 dias para o
ministro da Fazenda, Fernando Haddad, enviar a reforma da renda e do patrimônio
e 180 para a proposta de regulamentação das mudanças nos impostos sobre o
consumo, aprovadas no final do ano passado pelo Congresso.
- As duas propostas devem disputar espaços
nas negociações do Congresso. Interlocutores do governo admitem que a votação
das mudanças no IR pode ficar para 2025. Haddad quer reformar o IR para
eliminar as brechas de elisão usadas pelos mais ricos e, ao mesmo tempo,
aumentar a arrecadação sobre a renda. Unir o útil ao agradável, como afirmar os
técnicos do Ministério da Fazenda.
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