ANÁLISE
DE CONJUNTURA MUNICIPAL: “velhos” e “novos” atores políticos mirienses pós
2016.
Edson
Antunes[1]
Tom Jobim e Elis Regina cantaram “são as
águas de março fechando o verão é a promessa de vida no teu coração”. Mesmo que
para muitos o ano começa quando o carnaval acaba e que todo governo precisa de um
tempo mínimo para se organizar, como dizia Cazuza “o tempo não para”, a cidade
não para, seja o governo[2]
estratégico de médio e longo prazo, seja o governo proposto pelos “teus filhos
saberão cuidar de ti” ou o governo do dia-a-dia, a roda gira e ações públicas
são ou não realizadas. Então, para não sairmos apontando o dedo indevidamente
por ai, quando começam a aparecer os problemas, ou até mesmo quando se percebe
vontade em começar a resolvê-los, é preciso inicialmente fazer uma boa análise
de conjuntura[3] do
atual momento sócio, político e econômico do município para melhor compreensão
dos fatos da estrutura social miriense.
Para tanto, apresentamos algumas questões
que nos orientaram na condução desta análise, a saber: Qual a nova correlação
de forças e interesses no tabuleiro político de Igarapé-Miri? Quais as alianças
políticas presente no governo “teus filhos saberão cuidar de ti”? Qual a força
política central deste governo? E o que de “velho”, “novo” ou “diferente” temos
hoje na estrutura política municipal? Qual o quadro atual de atores[4]
do poder executivo e legislativo para o mandato 2017-2020?
Como já analisamos em outros momentos,
há uma constante circulação das elites[5]
dentro da classe política miriense[6],
em parte, pela manutenção do poder político edificado pelo poder econômico
(como no caso do elemento estratégico engenho de cana-de-açúcar da família Leão);
ou do volumoso “financiamento de terceiros” para as campanhas eleitorais ou devido
aos fluxos na política de alianças quando da criação de blocos partidários,
ligados a uma ou duas das três principais forças políticas do estado, hoje PSDB,
PT e PMDB.
Este fenômeno pode ser observado, pela
intensa costura entre as principais forças na formação da política de alianças
de blocos partidários que disputaram as eleições municipais majoritárias dos
últimos pleitos. Merecendo destaque, a disputa polarizada de 2012 da chapa de
Pina (PT) e Francisco Pantoja (PMDB) candidatos à reeleição do bloco
esquerda-centro entre a chapa de Pé de Boto (DEM) e Edir Corrêa (PSD)
candidatos do bloco direita-centro, da qual saiu vitoriosa a chapa encabeçada
por Pé de Boto-25, desembocando forte embate na justiça eleitoral com
permanentes trocas de Prefeito[7]
nunca visto na historiografia política de Igarapé-Miri, que culminou na
realização de eleição suplementar.
A eleição suplementar de maio de 2015
foi um anuncio da formação das forças políticas que disputariam as eleições municipais
de outubro de 2016. Neste pleito, saiu vitoriosa a chapa do ex-prefeito Pina
(PT) e da vereadora Carmozinha[8]
(PV) do bloco esquerda-centro obtendo 11.764 votos contra a chapa do vereador
Toninho Peso Pesado[9]
(PMDB) e Marcelo Corrêa (PR)[10]
do bloco centro-direita que obteve 11.227, uma diferença de 557 votos, bem como
da chapa de Joca Pantoja (PPS) e Antoniel Miranda (PEN) do bloco centro-direita
mais próximo do governo do estado, que obteve 7.939 votos.
Com a vitória da chapa Pina e
Carmozinha para comandar o poder executivo, o vereador Toninho Peso Pesado
(vereador eleito para a presidência da câmara) volta ao comando do poder
legislativo e dar continuidade a formação de suas alianças, construída nos 6
meses que assumiu a Prefeitura, tendo como base central o apoio da maioria dos
vereadores da então câmara municipal.
Após os constantes fluxos partidários
quando da formação dos blocos para a disputa das eleições de 2016, as forças políticas
foram novamente articuladas pelo PT, PPS e PMDB, ou seja, fecharam-se a chapa
de Padre Jucelino e Antônio Marcos ambos do PT, a chapa de Joca Pantoja do PPS
e Marcelo Corrêa agora PSC e a chapa que saiu vitoriosa de Toninho Peso Pesado
do PMDB e Antoniel Miranda do PEN, coalização “suprapartidária” de
centro-direita oposição acirrada ao PT do então governo Pina e ao PPS de Joca
Pantoja e partidos ligados ao governo do estado, inclusive do próprio PSDB.
Dito isto, o que de novo ou diferente
pós 2016, temos na conjuntura política miriense? A primeira questão é que desde 1992, último
ano do governo Danda (1989-1992) o PMDB não elegia prefeito em Igarapé-Miri, num
contexto de fortalecendo da sigla após o bom desempenho de Helder Barbalho na
última eleição ao governo do estado e da chegada do presidente ilegítimo Michel
Temer ao comando do governo federal; a segunda questão, um tanto diferente de
nossa história política, é a formação da coalização “suprapartidária”
constituída por um grande volume de forças políticas distintas (com forte
presença de lideranças políticas oriundas da Vila Maiauatá) no comando do poder
executivo e legislativo do município.
De fato, o atual quadro político neste
conturbado início do governo “Teus filhos saberão cuidar de ti” merece nossa
reflexão, em especial pela imediata centralidade da atual gestão. O centro do
governo foi formado por membros do clã familiar do prefeito ou ligado pessoalmente
a este ou ao PMDB (secretarias/órgãos: governo, finanças, educação, assistência
social, cultura, controladoria, procuradoria...) deixando várias forças políticas
da coalização na periferia.
Para além do centro do governo, destaca-se
a secretaria de saúde que ficou com o vice-prefeito Antoniel Miranda que também
puxou o meio ambiente para o PEN, sendo que as outras secretarias, embora condutoras
de políticas importantes como a administração (Dalva Amorin do PTB), gestão e planejamento
(Francisco Pantoja do PMN), desenvolvimento urbano (Marenilson do PMN) e desenvolvimento
econômico (Natan do PCdoB) não têm fundos descentralizados, sendo as despesas ordenadas
pelo prefeito municipal e o secretário de finanças, ambos do núcleo central do
governo, que no mínimo tem gerado descontentamentos nas demais forças políticas
da coalização “suprapartidária” que venceu as eleições.
Os descontentamentos entre as forças
políticas do governo não são ainda mais intensos, porque o poder legislativo é
comandado hoje por um grupo político que ora se colocou a favor ora contra aos
governos do PFL, PT, DEM ou do PMDB, seja quando na condução da secretaria de
saúde ou da câmara municipal e, portanto sempre esteve e está muito bem aquinhoado
no poder local.
Por fim, essas são as forças de nosso
tabuleiro político hoje que como já observamos podem de uma hora pra outra, entrar
ou sair de blocos partidários formados por interesses conjunturais.
[1] Doutor em Ciências Sociais/Sociologia/UFPA.
Prof.º SEDUC/Enedina Sampaio Melo/Ig-Miri.
[2] A democracia competitiva premia os
bons governos, ou seja, administrações capazes de executar políticas que
aumentem o bem-estar médio da sociedade. Nesse sentido, o mercado eleitoral
está aberto, pois a nova coalização centro-direita não conseguiu restabelecer
as bases do crescimento e da superação da crise ético-política brasileira
(Rafael Cortez, cientista político pela USP, 2016).
[3] Conjuntura é uma
atualização da estrutura, como a estrutura se apresenta num dado momento. A
conjuntura não tem autonomia absoluta em relação à estrutura, que continua
sendo determinante para se entender a lógica dos acontecimentos políticos e
econômicos. A margem de manobra dos atores, na esfera da conjuntura, é
relativa, ou seja, ela é determinada pelas limitações da estrutura. Achar que
essa margem é ilimitada e que os atores podem fazer o que quiser é incorrer
numa espécie de voluntarismo e suas consequências práticas no campo social e
político. Como atualização da estrutura, a conjuntura apresenta sempre algo
novo, diferente. Isto porque a correlação de forças e interesses no tabuleiro
político varia. Quando a política de alianças sofre uma mudança, a sociedade
experimenta uma sensação de turbulência, de insegurança ou crise. As
conjunturas são determinadas, em primeira instância, pelas alianças políticas
em jogo (Michel Zaidan, cientista político da UFPE, 2016).
[4] Bourdieu utiliza o
termo “agentes” pertencentes a determinado “campo”, neste caso campo político
para analisar a estrutura geral da sociedade (BOURDIEU, Pierre. O poder
simbólico. 5ª edição. Rio de Janeiro: Bertrando Brasil, 2002).
[5] Conceito clássico da teoria política
em MICHELS (1958); PARETO (1961); MOSCA (1988) e BOTTOMORE (1965).
[6] CORRÊA, Edson de Jesus Antunes.
“Leões do Norte”. Elite política em Igarapé-Miri. UFPA, Belém, 2004.
[7] Essa questão será tratada em outro
momento.
[8] Vereadora Carmozinha por ser a vice-presidente
assumiu por 6 meses a presidência da câmara.
[9] Vereador Toninho Peso Pesado por ser
o presidente da câmara assumiu por 6 meses a prefeitura.
[10] Contador do então Prefeito Toninho
Peso Pesado nos 6 meses que esteve a frente da prefeitura.
Nenhum comentário:
Postar um comentário